Com o teu post fizeste-me lembrar a minha C., tocaste num dos meus pontos fracos.
Li o texto que escreveste, gostei muito, mas, como seria de esperar, não resisti... Nunca falei dela neste blog, sabia que mais tarde ou mais cedo o iria fazer, mas andava a adiar. Cada vez que pensava nisso, achava que ia ter dificuldade em exprimir tudo o que significou para mim. Mas hoje, ao ler o último post senti-me inspirada, decidi-me e por isso, cá vai...
Sou daquelas pessoas que adora animais, mas daquelas adorações muito fortes. Sinto-me bem ao pé deles e consigo entender o que de bom têm e nos dão. Mas, na minha vida, o animal que mais gostei, adorei, venerei, foi a minha gata.
Era linda e tivemos desde o início uma história especial e diferente das normais.
Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que ia no autocarro para a escola, com um grupo de amigas, quando uma delas perguntou quem queria um gato, pois a gata da vizinha, prima, tia ou lá o que era, tinha tido gatinhos. Foi quase intantâneo, acho até que nem demorei um minuto a responder, apesar de saber da dificuldade que iria ter para te conseguir pôr lá em casa. Disse que sim, e nesse mesmo dia, no regresso da escola para casa, fui escolher um desses gatos que tinham acabado de nascer. Cheguei lá, um sitio sujo e horrível, olhei e escolhi-te a ti. Durante o mês seguinte, que ficaste junto da tua mãe, visitava-te quase todos os dias para ver como estavas.
Sempre quis ter um gato, mas não estava a ser fácil convencer o pai e mãe, aliás estava quase a desistir. Mas, naquele momento em que respondi à minha amiga que queria ficar contigo, pensei que teria um mês (que era o tempo que ia demorar para te poder levar para minha casa) para me desenrascar, orientar, inventar a desculpa ideal para dar a volta aos meus pais.
Finalmente, chegou o dia. Só pensava: Será que me vou safar? Será que vou conseguir? (estava em pânico). Mas contei com a ajuda de duas amigas, que me apareceram em casa contigo dentro de uma caixa de sapatos, como se fosses uma surpresa e nunca te tivesse visto. Perante aquele teatro todo, e porque tu eras linda, pequenina, peluda e macia, os meus pais olharam um para o outro e renderam-se, não tiveram coragem para não aceitarem aquela prenda que as minhas amigas estavam a oferecer (tudo uma grande mentira, claro! E só passado vários anos é que souberam a verdade).
Nem queria acreditar que o meu plano tinha corrido bem e que tu eras mesmo minha. Estava muito feliz, não te largava por um minuto...
Aos poucos conquistaste o pessoal lá de casa. A minha mãe adorava-te, o meu pai nem se fala. Mas como não podia ser tudo perfeito, a relação e a convivência com o meu irmão foi sempre muito complicada (não se podiam ver!!!).
Adorei passar contigo todos aqueles anos da minha vida, lembro-me de ti muitas muitas vezes e deixaste montanhas de saudades cá em casa. Eu fiz, nós fizemos tudo por ti.
És inesquecível.
Ainda hoje me lembro do som do teu ron ron, das nossas viagens para o Algarve quando íamos de férias, dos lugares da casa que gostavas mais (à tarde dormias na tua caminha junto à janela do meu quarto, depois do jantar ias para o teu sofá fazer companhia aos pais e à noite dormias no fundo da cama dos meus pais), do quanto gostavas de estar no jardim na casa do Algarve ( no Verão até dormias lá fora na relva), da tua comida preferida (mousse de linguado e camarão cozido. Ficavas maluca só com o cheiro), das tardes que me fazias companhia enquanto eu estudava, do quanto adoravas certas e determinadas mantinhas lá de casa, do vício que tinhas de pedir para abrirmos a torneira do bidé da casa-de-banho para beberes água, das tuas garras bem afiadinhas ...
Foi incrível como conseguiste conquistar o coração de todos cá em casa (o meu já estava conquistado, mas o do meu pai e da minha mãe...), nem mesmo os estragos e asneiras iniciais que fizeste impediram isso.
Foste bem tratada por nós, fazíamos as vontades todas, dai teres ganho tanto vícios, aqueles típicos de quem passa a vida a receber miminhos.
Valeste muito na minha vida, eras sem dúvida a minha confidente e um dia, à conta de um texto que escrevi sobre ti, fizeste-me ter uma grande nota a Português.
Partilhei contigo muitos segredos, coisas boas e más, e fiz de ti a minha almofada onde chorei vezes sem conta (sabia tão bem). Lembraste como odiavas e ficavas logo nervosa cada vez que me ouvias a chorar?
Durante muito tempo foste para mim uma terapia, para mim não havia nada melhor do que chegar a casa, brincar contigo e fazer aquelas corridas doidas, em que tu levavas tapetes e tudo e mais alguma coisa à frente.
Tinhas uma personalidade forte, nunca foste de muito colo nem davas confianças a quem não conhecias, era tudo como querias e na dose que te apetecia, mas até isso nós já sabíamos ver em ti.
Eras esperta, inteligente, às vezes arrogante, em nova foste elegante, tinhas uns olhos azuis lindos e tinhas atitudes e fazias coisas que nos surpreendiam sempre.
Quando ficaste doente nem queria acreditar, mas fiz tudo por tudo para convencer o pai e a mãe a aceitarem fazer-te aquela operação que te deu mais algum tempo de vida (bem sabia eu que não irias ficar boa, mas tinha que tentar). Foi complicado, não gostei nada de te ver mal, mas passou e tu recuperaste.
Um ano após tanto esforço, voltaste a piorar, e aí é que já não podia fazer nada...foi até aguentares...
Aquele dia em que tivemos que tomar a decisão de te levar ao veterinário foi um pesadelo, sabíamos que íamos todos juntos para lá, mas tu já não ias voltar connosco para casa.
Foi horrível, sei que te deixei lá e que tu ficaste a olhar para mim até já não me veres mais, mas tinha mesmo que ser, o teu sofrimento já estava a ser mais do que muito.
Acredita que todos nós chorámos muito e demorámos muito tempo a perceber que tu já não estavas em casa à nossa espera quando chegássemos. No fim, até mesmo o meu irmão (que tanto tu como ele se odiavam) chorou e sentiu a tua falta.
Foste e serás o meu animal de estimação mais especial. Adoro animais, gosto de todos (ou quase todos), já tive peixes, hamsters, pássaros, ... , mas nenhum, nem mesmo o Zé Maria (o peixe que viveu mais de 3 anos dentro de um aquário redondo no meu quarto), a Maggy ou o Sebastião (dois passarinhos que punham ovos no ninho como se não houvesse amanhã) me deixaram tantas recordações e saudades como tu. És insubstituível.
Já passou um ano e meio e ainda falamos muito em ti, e agora que é Inverno sinto a falta do teu peso (pesadissímo) no fundo da cama para me aquecer os pés.
Pronto, eu já sabia que se começasse a falar da minha C. nunca mais parava, as histórias que passei com ela não têm fim.
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