sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

by the way...

Agradeço por ter nascido num país, e ter sido educada de acordo com uma cultura que me permite ser mulher e ter direitos.
Agradeço por poder sair à rua com a roupa que me apetecer, por ter 23 anos, ser solteira, e nunca ter tido filhos. Agradeço por poder olhar para o meu pai como um homem afectuoso e amigo, e não como alguém que tem como encargo gerir todos os apectos da minha vida, apesar de ainda me sustentar. Agradeço a oportunidade de frequentar uma Universidade.
Agradeço a liberdade e a autodeterminação que tenho para decidir a minha vida. Os meus erros são minha culpa, as minhas vitórias são mérito meu.

Não posso compreender, de modo sincero, que uma rapariga se case com 12 ou 13 anos de idade com um homem escolhido pelo seu "tutor", que passe da alçada do pai para a alçada do marido ou de um irmão, mesmo que este seja mais novo que ela, ou até mesmo do seu próprio filho. Não compreendo. Mas sou obrigada a respeitar exactamente devido aos valores em que acredito, os valores da sociedade em que, felizmente, estou inserida. Valores esses que me permitem pensar e escolher. Valores esses que aceitam pessoas de todas as culturas e obrigam a compreender e aceitar a diferença. Mesmo que, na prática, certos cidadãos oriundos do sistema livre não respeitem a diferença, pelo menos, a obrigação de respeito existe. O sistema a isso obriga, se não o fazem, falha deles. Se prejudicam a liberdade de outrém, respondem por isso.

E não me lembro de me sentir privilegiada todos os dias da minha vida por ter estes direitos, (apesar de, quando confrontada com certos factos que se verificam por este mundo me sentir uma sortuda!) e agradeço por isso, porque ninguém deve agradecer o direito de ser respeitada.

3 comentários:

Bruno disse...

ôi, tudo bem?
Mas quem disse que sendo muçulmana ou vivendo num país onde a maioria das pessoas é muçulmana não podes ter tudo isso? E se calhar podes ter até muito mais. Não podemos cair em generalizações abusivas.

Vai lá para alguns recantos do nosso Portugal e vê os direitos que por lá são dados às mulheres... ainda hoje.

Há milhões de muçulmanos em todo o mundo, e esses casos sucedem em locais determinados, mas são minoritários. Não se pode generalizar. Essa parece a visão de quem olha por um canudo e não consegue ver o que se passa ao redor. Visita algum país árabe e verifica como por lá se vive. Como são as pessoas. Como elas se interessam por ti e te respeitam. E te desarmam com a sua sabedoria, mesmo quando o ocidental se julga o proprietário de toda a moral e de toda a justiça. Nada mais errado. O nosso sistema é impessoal, faz das pessoas animais famintos que não se importam de quem atropelam.

Voltando às mulheres, elas vestem-se como desejam, muitas vezes com trajes bastante mais "arrojados" do que as ocidentais, têm mais cuidado com a beleza, a aparência, são cultas, afectivas. Algumas podem andar tapadas, tapadinhas, da cabeça aos pés, mas é por vontade própria, porque acreditam que é assim que deve ser. E essas podem noutras circunstâncias vestir-se de outras formas. Como tu, que andarás de calças ou saias. Porquê? Porque não andas de calções, em cuecas, ou nua? Porque acreditas que é assim que deve ser. São livres. E têm a liberdade para saber o que é ter um carácter construtivo e respeitar-se a si próprias.

Uma coisa posso testemunhar. São pessoas mais felizes.

É claro que há excepções. Em tudo existem excepções. Até neste nosso sistema aparentemente perfeito que nos deixa cegos para o que é essencial.

Ema disse...

Olá

"Não podemos cair em generalizações abusivas."
É verdade, elas são perigosas e uma generalização é quase sempre abusiva, há sempre excepções e casos pontuais. São portanto excepções que fogem à REGRA.

"Vai lá para alguns recantos do nosso Portugal e vê os direitos que por lá são dados às mulheres... ainda hoje."
Todos sabemos que as mulheres são discriminadas, ainda hoje, em várias situações. Mas recantos do nosso país onde as mulheres não tenham direitos? Há, aliás, mulheres que por iniciativa própria se "diminuem" em relação ao sexo masculino. Seguramente, mulheres da geração da minha avó serão mais machistas do que alguns homens. É natural, cada um vive de acordo com a educação que recebeu. Até 1974, no "nosso Portugal" o sexismo era um imperativo. Aliás até depois de 1974, a lei continuava a ser penalizadora da mulher em matéria de casamento, nomeadamente, isto por lei, já para não falar nas mentalidades e acção social.

"Há milhões de muçulmanos em todo o mundo...", de facto, há, eu própria tive um colega muçulmano na escola durante muitos anos, ficámos amigos. Ele sofreu, a nível familiar as pressões de ser fruto de um casamento multi-racial, filho de uma portuguesa e um muçulmano. Sempre foi, com todas as pessoas com quem o vi tratar no seu dia a dia, uma pessoa extremamente correcta. E como ele haverão felizmente muitos, só irmãos dele eu conheci seis, muçulmanos (já que especificaste!). Frequentei um lar de muçulmanos e fui muito bem tratada.

"...esses casos sucedem em locais determinados, mas são minoritários." Casos de mulheres tratadas como objectos por determinadas culturas, minoritários?? Bem, quanto a isso as estatísticas resolvem, não há muito a discutir.

"Essa parece a visão de quem olha por um canudo e não consegue ver o que se passa ao redor"
O sistema ocidental não é o perfeito, tem muitooooos defeitos, imensos mesmo, é impessoal, selvagem, etc. Mas tem, como eu referi, a maravilha de nos IMPOR a aceitação à pluralidade e variedade de credos, crenças e ideais. De nos obrigar ao respeito, mesmo que este não se verifique por parte de algumas pessoas, na prática. É quem trata mal alguém simplesmente por essa pessoa ter desterminada cultura que está errada, e é quem está errado que deve ser punido.

"Visita algum país árabe e verifica como por lá se vive." Visitar é completamente diferente de nascer e viver em determinada cultura, eu visitante de um país islâmico, continuaria a ser eu,uma turista, filha de portugueses, num país estrangeiro.

"E te desarmam com a sua sabedoria, mesmo quando o ocidental se julga o proprietário de toda a moral e de toda a justiça"
Não duvido, nunca duvido da sabedoria de nenhum povo.Temos sempre a aprender com todas as culturas. E, de mais a mais, uma cultura que sobreviveu durante séculos, será, no minímo um interessante objecto de estudo.

Jamais colocaria em causa a liberdade de alguém professar uma qualquer religião, aceitar os seus termos. Não me cabe a mim, cada um É LIVRE de rezar ao Deus que entender. Jamais questiono a possibilidade de felicidade de uma mulher que nasça e seja muçulmana até morrer, porque assim se sente bem. As religiões que podemos associar a estes regimes "castradores" do sexo feminino já existiam milénios antes de eu nascer. Resta-me respeitá-las, concorde ou não, respeito. E não me parece que no post tenha ofendido religião alguma. Respeito todas, se uma pessoa entende haver uma entidade superiora, segundo a vontade da qual quer reger a sua vida, pois que a deixem fazê-lo.
Eu agradeci, e, reitero as minhas afirmações, por ter nascido num país livre. Livre na lei escrita,e crescentemente, na lei aplicada diariamente.A evolução sente-se, nomeadamente, pela diferença na minha vida em comparação com a vida da minha avó, até mesmo da minha mãe. É uma evolução interminável, susceptível a abusos, que carrega consigo também um lado menos desejável, perderam-se valores, perdeu-se respeito pelas pessoas mais velhas, ontem sábios, hoje fardos. Direitos das mulheres para bem da igualdade transformaram-se para muitas em feminismo exarcebado, direito a escolher indumentária transformou-se em vulgaridade.....enfim.

como eu disse, a maravilha da liberdade está em escolher. E a liberdade acarreta uma superior dose de responsabilidade. Eu sou livre de realizar a minha vida, e a minha liberdade comporta o respeito por todos os que me cercam. No entanto, não posso deixar de discordar quando para viver em conformidade com os desejos de um Deus, se tratam pessoas como objectos, para punir traições conjugais de uma mulher se lhe atiram pedras, se amputam ´´orgãos genitais a crianças, se mata uma pessoa por razões de honra de um homem (marido ou pai,etc.). Matar nunca realiza justiça, seja para bem da defesa ou dos valores familiares, seja no corredor da morte dos EUA.

E pronto, cada um com a sua opinião e todos de acordo com a sua consciência!

Bruno disse...

Olá, obrigado pela resposta. Antes, devo dizer que sou ateu, e que não acredito em qualquer entidade sobrenatural, religioões, etc., nem compartimento ninguém pela crença que tem.

Quanto ao respeito pela pluralidade, não podendo falar pelo que não conheço, mas lembrando as experiências que tive em alguns países com população maioritariamente muçulmana, encontrei bastante tolerância. Exigência de respeito pela crença, mas respeito pela crença do outro, se diferente. E de um modo geral, respeito pelo que é diferente. Os maiores atentados à diferença testemunhei-os por cá, se queres que te diga.

O Islão na sua essência (em minha opinião) é bastante respeitador da mulher (mais do que a crença cristã), a mulher é colocada num patamar superior. Depois, o que os homens fazem com as palavras dos seus deuses, já é outra história.

Em geral, concordo com o que escreveste.